Neurologia

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Cefaléia

Cefaleia: Um Guia Essencial

cefaleia, popularmente conhecida como dor de cabeça, é uma das condições neurológicas mais comuns na prática médica. Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), 95% das pessoas terão pelo menos um episódio de dor de cabeça ao longo da vida. Cerca de 70% das mulheres e 50% dos homens experimentam episódios recorrentes. No Brasil, aproximadamente 13 milhões de pessoas convivem com dores de cabeça crônicas – definidas como aquelas que ocorrem em 15 ou mais dias no mês – impactando significativamente a qualidade de vida e a produtividade.

Classificação das Cefaleias

As cefaleias são classificadas em duas categorias principais: primárias secundárias.

Cefaleias Primárias

Nessas condições, a dor de cabeça é o principal problema, sem associação com outras doenças subjacentes. Os exemplos mais comuns incluem:

  • Enxaqueca (Migrânea): caracterizada por dor pulsátil, frequentemente unilateral, com intensidade moderada a grave. Pode durar de 4 a 72 horas e geralmente vem acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia) e ao som (fonofobia). A enxaqueca pode ser classificada em:
  • Com Aura: inclui sintomas neurológicos transitórios que precedem a dor, como alterações visuais (pontos brilhantes ou linhas em ziguezague), distúrbios de linguagem e sensibilidade ao som.
  • Sem Aura: forma mais comum, ocorre sem os sintomas neurológicos pré-dor.
  • Cefaleia Tensional: surge devido ao estresse e à tensão muscular, geralmente descrita como uma pressão ou aperto ao redor da cabeça. A dor é difusa, de leve a moderada intensidade, e raramente é incapacitante.
  • Cefaleia em Salvas: uma condição rara, mas extremamente dolorosa, com crises em ciclos (“salvas”) que podem durar semanas ou meses. Afeta um lado da cabeça e é frequentemente acompanhada de sintomas oculares, como lacrimejamento e congestão nasal.

Cefaleias Secundárias

São causadas por doenças ou condições subjacentes, como infecções, traumas cranianos, problemas estruturais na coluna cervical ou alterações metabólicas. A cefaleia secundária é um sinal de alerta que requer avaliação médica imediata.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da cefaleia é feito com base em uma história clínica detalhada e, em alguns casos, complementado por exames de imagem ou laboratoriais para excluir causas secundárias.

Tratamento Agudo

Utiliza-se analgésicos comuns, anti-inflamatórios e, no caso de enxaquecas, medicamentos específicos como os triptanos para aliviar os sintomas durante as crises.

Tratamento Preventivo

Indicado para pacientes com crises frequentes e severas, especialmente para aqueles que têm três ou mais crises por mês com duração superior a 12 horas, ineficácia da medicação sintomática, casos de enxaqueca menstrual ou conforme a necessidade do paciente. O objetivo é evitar que a dor ocorra. Inclui o uso de medicamentos como:

  • Betabloqueadores (ex.: propranolol)
  • Antidepressivos Tricíclicos (ex.: amitriptilina)
  • Anticonvulsivantes (ex.: topiramato)

Além disso, tratamentos adicionais podem ser considerados:

  • Injeções Suboccipitais de Lidocaína e Corticosteróides: podem ajudar a reduzir a intensidade das crises em situações de emergência ou como parte de abordagens para controlar crises específicas, mas não substituem as terapias de longo prazo.
  • Aplicação de Toxina Botulínica Tipo A (Botox): abordagem eficaz aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2011 para pacientes com enxaqueca crônica. Quando injetada em pequenas doses, a toxina botulínica atua paralisando os músculos, evitando sua contração e eliminando a dor. É aplicada nas regiões da testa, têmporas, atrás da cabeça, pescoço e ombros, aproximadamente a cada três meses. As injeções periódicas ajudam a reduzir a frequência e a intensidade das crises.
  • Tratamento com Inibidores do Peptídeo Relacionado ao Gene da Calcitonina (CGRP): outra opção de tratamento preventivo é o uso de inibidores do CGRP. O CGRP é um neuropeptídeo envolvido na transmissão da dor e na vasodilatação associadas à enxaqueca. Medicamentos que bloqueiam a ação do CGRP, como os anticorpos monoclonais, têm demonstrado eficácia na redução da frequência e intensidade das crises de enxaqueca, especialmente em pacientes que não respondem bem a outras terapias preventivas. Esses medicamentos são administrados por via subcutânea, geralmente uma vez por mês, e possuem um perfil de segurança favorável.

Mudanças no Estilo de Vida e Identificação de Gatilhos

Identificar e evitar gatilhos individuais é uma parte essencial do manejo da cefaleia. Entre os gatilhos mais comuns estão:

  • Privação de Sono
  • Estresse e Ansiedade
  • Fatores Hormonais
  • Alimentação

Alimentos Associados a Gatilhos de Cefaleia

Alguns alimentos têm sido associados ao desencadeamento de cefaleias, especialmente em indivíduos com enxaqueca. Manter um diário alimentar pode ajudar a identificar se esses alimentos são gatilhos específicos para você.

  • Álcool: o vinho tinto é frequentemente citado como um gatilho, possivelmente devido à presença de histamina, tiramina e sulfitos, que podem dilatar os vasos sanguíneos.
  • Chocolate: contém beta-feniletilamina, que pode estimular o sistema nervoso central e contribuir para o início de uma cefaleia.
  • Queijos Maturados: queijos como cheddar, parmesão e gorgonzola contêm tiramina, que pode desencadear enxaquecas em algumas pessoas.
  • Carnes Processadas: produtos como salame, bacon e salsichas contêm nitratos e tiraminas, frequentemente citados como gatilhos.
  • Glutamato Monossódico (MSG): comum em alimentos processados, pode ser um gatilho para cerca de 10% das pessoas com enxaqueca, afetando a função do sistema nervoso.
  • Cafeína: flutuações nos níveis de cafeína, especialmente consumo excessivo ou redução abrupta, podem resultar em enxaquecas.
  • Outros Alimentos: certas frutas (como bananas e frutas cítricas), iogurtes e alimentos fermentados também são reportados como potenciais gatilhos.

Estilo de Vida Saudável

Práticas como alimentação equilibrada, boa postura, exercícios regulares, hidratação adequada e técnicas de manejo do estresse (como meditação e yoga) são complementares aos tratamentos médicos e contribuem para o bem-estar geral.

A cefaleia não é apenas uma dor; ela pode ser um alerta importante do corpo. Buscar avaliação médica é essencial para determinar o diagnóstico correto e evitar complicações. Se você sofre de cefaleias frequentes ou incapacitantes, agende uma consulta e receba um tratamento personalizado.

Viver sem cefaleias é fundamental para alcançar uma qualidade de vida plena, permitindo que você desfrute de cada momento sem dor.

Para saber mais sobre o assunto ou esclarecer suas dúvidas, mande um e-mail: [email protected]